quarta-feira, 2 de abril de 2008

Escola Inclusiva


A exclusão escolar não ocorre apenas quando a criança ou o jovem está fora do sistema de ensino: ela acontece, muitas vezes, com o aluno matriculado regularmente na escola. Isso pode se dar por uma série de motivos, entre eles: questões lingüístico-culturais, dificuldade de aprendizagem (dislexia, hiperatividade, ritmo mais lento, etc.), necessidade especial leve ou acentuada (deficiência física ou intelectual), condição sócio-econômica, etnia, aparência (obesidade, albinismo), orientação sexual (homossexualidade), orientação religiosa, enfim, são muitos os fatores que podem levar um aluno a se sentir excluído, perseguido, humilhado ou ter qualquer tipo de desconforto continuado dentro do ambiente escolar.

Todo o adulto já teve a oportunidade de observar crianças e adolescentes, além de já ter vivido pessoalmente tais fases, e sabe, portanto, que estes podem ser extremamente cruéis com seus pares. Existem fases da vida nas quais é especialmente prazeroso para alguns torturar psicologicamente os outros, em especial aqueles que apresentam alguma diferença mais marcante em relação aos demais integrantes do grupo. Tal agressão pode tornar-se física, inclusive: não são raros os casos de assédio moral e agressões físicas nas escolas. Dessa forma, é papel do Educador (bem como dos demais profissionais que atuam na escola) observar tais comportamentos e intervir firmemente, antes que eles se tornem patológicos na escola, causando transtornos ainda mais graves.

Porém, além dessa intervenção, é necessária uma prevenção. É sempre oportuno que sejam trabalhados com os alunos temas que abordem a ética, o respeito à diversidade, de forma honesta e direta, porém, trazendo o lúdico, a interação e a participação efetiva dos alunos às discussões, para estas que não sejam transformadas em meros “sermões”, que serão, de qualquer forma, ouvidos, porém, totalmente rechaçados e esquecidos imediatamente.

É muito simplista e estranhamente cômoda, para a maioria, a postura de distanciamento dos problemas, com uma visão de que não vale a pena o investimento porque as crianças ou jovens que têm maus comportamentos são irrecuperáveis, já foram feitas inúmeras experiências, inclusive com jovens infratores, que provam o contrário. Entretanto, é necessário que haja motivação para mobilizá-los numa direção mais produtiva. Essa motivação provavelmente não será espontânea, terá, muitas vezes, de ser incentivada pelo Educador.
E, para que surja essa motivação intrínseca, devemos aplicar uma motivação extrínseca: elogiar os bons comportamentos, as ações feitas em prol da coletividade, os esforços pessoais de cada um, enfim, valorizar tudo o que há de bom e construtivo no indivíduo e no grupo.
Para começar, é necessário que o Educador conheça seus alunos: seu contexto sócio-econômico, sua comunidade, sua família, seu ritmo de aprendizado, seus interesses, potencialidades e limitações. Não é possível ter uma relação afetiva com quem não se conhece. É preciso, também, respeitar esse aluno, não subestimar a sua capacidade intelectual ou moral: ouvi-lo, dar-lhe espaço para que se expresse, para que opine, e para que o Educador possa, inclusive, aprender, com a vivência desse aluno. Tornar-se um parceiro dos alunos é o primeiro passo para que haja cumplicidade dentro do grupo, no sentido de cooperação e entendimento mútuos. Se o Educador for respeitado e bem quisto por seus alunos, poderá contar com eles nas diversas situações que se apresentam nesse relacionamento ensino-aprendizagem.

É necessário, também, além do estabelecimento da relação afetiva, tornar as aulas interessantes e interativas, tornando seu conteúdo atraente aos alunos. Isso se dará por meio da adoção de uma linguagem inteligível, da escolha de temas que façam sempre uma conexão com a realidade, pois, se o discurso for excessivamente acadêmico, o assunto pode rapidamente se tornar maçante e aluno abandonar o interesse e curiosidade sobre ele. A participação do aluno é também indispensável, a promoção de sua autonomia, porém, não se trata de abrir mão do papel de orientador, os papéis em sala de aula têm de estar sempre muito bem estabelecidos, conforme enfatiza o texto da Professora Diva Maciel, Processos Motivacionais e Inclusão Escolar: Contribuições à Formação do Professor de Artes (p. 105):

(...) não podemos concluir que devemos nos ater, em educação, a deixar a criança fazer apenas o que ela tenha interesse natural em fazer. (...) Pelo contrário, considerar a criança ativa e naturalmente motivada para conhecer e dominar o seu ambiente exige uma prática pedagógica sensível ao papel do professor de mediação entre a criança e a cultura, entre indivíduo e sociedade, entre a cultura primeira e a cultura elaborada.

Quanto à questão da inclusão de portadores de necessidades especiais, no ambiente escolar regular, isto é, com alunos que não possuem tais necessidades, além do que já foi exposto acima, em termos de respeito à diversidade e motivação comportamental, considero imprescindível uma formação adequada dos Educadores para a atuação efetiva na escola inclusiva.

Não é apenas com boa-vontade que se constrói um sistema educacional de qualidade para todos. Não é necessária apenas a empatia, são necessários (muito) treinamento, escolas com locais adequados para NEEs (acessibilidade), materiais específicos, equipamentos, ou seja, um ensino todo adaptado às diferenças e necessidades individuais. É também imprescindível que esse acolhimento seja estendido a todos: os colegas de escola também devem se engajar no sentido de incluir os portadores de necessidades especiais, pois é com eles que irão se relacionar mais constantemente dentro da escola.

Como futura Arte-educadora, considero que eu terei em mãos subsídios ainda mais interessantes para trabalhar com meus alunos tanto as questões motivacionais quanto as de inclusão, de respeito à diversidade. A Arte, em todas as suas linguagens, possibilita a fruição de todos, inclusive daqueles que não dispõem de um dos sentidos, ou que tenham dificuldade de locomoção, ou mesmo uma deficiência intelectual.

A Arte é democrática e pode ser lida de várias formas, não necessariamente das formas tradicionais: uma escultura, por exemplo, além de vista pode ser tocada. Cadeirantes podem dançar um ballet adaptado, isso já existe em vários lugares e proporciona ao público espetáculos belíssimos!

A Companhia de Dança Arte de Viver, por exemplo, está entre as 10 melhores do mundo na modalidade artística em dança para cadeirantes e já representou o Brasil em vários campeonatos, inclusive na Africa. Existem, hoje, eventos inteiros que exibem as produções artísticas de portadores de necessidades especiais em todas as linguagens da Arte, como o projeto Arte sem Barreias, cuja 1ª edição foi realizada em 2006:

“Evento ocupa diversos espaços culturais da cidade e traz trabalhos realizados por artistas com deficiência

Entre 19 de julho e 20 de agosto, diversos espaços da Cidade de Santos, São Paulo, serão palco, pela primeira vez, do Projeto Arte sem Barreiras, evento promovido pela Funarte, com patrocínio das Loterias da Caixa Econômica Federal. Dança, teatro, música, artes plásticas. Repleta de interessantes manifestações culturais, a mostra Santos guarda uma característica que a torna singular: os trabalhos apresentados são realizados por artistas com deficiência.
De grupos de dança com bailarinos sobre cadeiras de rodas até apresentação de bandas de percussão de surdos, passando por artistas que seguram o pincel com a boca, são muitas as possibilidades das pessoas com deficiências. Grandes nomes como Toulouse Lautrec e Anita Malfatti, por exemplo, tinham membros atrofiados e ainda assim, são lembrados pelo impacto causado por suas obras.

A mostra vai invadir até mesmo a Praça das Bandeiras e a Praia do Gonzaga. A intenção é promover a inclusão social e difundir a idéia de que a deficiência não impede a geração de olhares criativos e instigantes, traduzidos em obras que surpreendem pela qualidade estética, explica Claudia Amorim, coordenadora do projeto. O evento tem o apoio da Secretaria Municipal de Cultura, de Santos”.

Matéria na íntegra disponível em: http://www1.caixa.gov.br/imprensa/imprensa_release.asp?codigo=6304645&tipo_noticia=0

Enfim, o impossível não existe, são as próprias pessoas que colocam as limitações para elas mesmas e, algumas vezes, para os outros. Existe o mais difícil de alcançar, mas isso, em momento algum, quer dizer que não possa ser executado: para tanto, é necessário que o Educador também exercite a sua motivação... Afinal, o que o levou a cursar Licenciatura, senão a possibilidade maravilhosa de formar pessoas? E se essas pessoas são diferentes, isso deve se transformar numa barreira instransponível ou num desafio a ser encarado e as tais barreiras superadas?

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