Meu Deus do céu! O que é que estão fazendo com a Língua Portuguesa? Gente, dá até medo...
Atualmente, percebe-se uma clara falta de preocupação generalizada em falar e escrever corretamente. Acho, também, que é uma solução muito simplista considerarmos isso um reflexo do fenômeno do “internetês”: essa aberração que reduziu o vocabulário, especialmente dos jovens, a um amontoado de erros de ortografia grotescos. Ah, façam-me o favor! O mesmo tempo que se leva para digitar “axo”, “bejo”, e outras pérolas do gênero, leva-se para digitar “acho”, “beijo”, e por aí vai...
Uma pequena vitória nesse campo: de tanto eu “pegar no pé” das minhas filhas por causa do internetês, a minha caçula, Vicky, voltou a escrever em português no MSN – agora, pelo menos, entendo o que ela está digitando! ;-)
E o famigerado “gerundismo” então? Porque falarmos “vamos estar passando a sua ligação para o setor tal” quando podemos simplesmente dizer: “um momento, passaremos a ligação”? É por isso que eu participo da comunidade “Vamos estar odiando o gerundismo”. Se eu pudesse, sozinha, erradicaria essa outra aberração da nossa língua... Mas, como isso é impossível, faço a minha parte, me abstendo completamente desse desvario gramatical! Ah! Recentemente, teve até um prefeito, não me recordo o município, que baixou um decreto proibindo o gerúndio. Coitado do gerúndio, ele lá tem culpa da má – aliás - péssima utilização que fazem dele? Aliás, como é que se pode proibir um tempo verbal? O Prefeito errou na mão, mas, se ele reformular esse Decreto e resolver acabar com o “gerundismo” na prefeitura, eu também apóio! (rs)
É exatamente por causa do desleixo com o nosso idioma que vemos os resultados sofríveis de alunos no ENEM, ENAD, e outras ferramentas utilizadas na avaliação dos conhecimentos dos alunos do ensino básico e superior. Alunos do 3º ano do Ensino Médio são incapazes de fazer uma redação com 10 linhas, por exemplo. Como é que um aluno chega a esse ponto como um analfabeto funcional? Por quantos professores esse alunou não passou, durante a sua vida escolar? Ninguém percebeu que ele não tinha condições de avançar até ali, ninguém identificou sua formação deficitária? Ou, simplesmente, é mais cômodo promover um aluno de uma série para a outra, sem que haja condições mínimas para tanto?
Isso só é engraçado quando o Jô lê as “pérolas do ENEM” no seu programa. A realidade é bem outra, é trágica: brasileiros que não falam português, que não sabem se expressar, que saem das escolas como entraram, ou seja, com pouco ou nenhum conhecimento.
Podem me chamar de chata, mas eu não abro mão de meus dicionários, meus manuais de redação, do corretor ortográfico que qualquer editor de texto possui, dos glossários e enciclopédias online. Tudo isso está disponível, basta procurar, basta ter interesse, pois, onde há vontade, há meios. Morro de medo de dar uma “gafe”, de “pagar o mico” escrevendo um absurdo, que outras pessoas – colegas, professores e, no caso do blog, outros internautas – lerão. E, vou mais adiante ainda: eu não poderia ter outra postura, já que me propus a fazer um curso de licenciatura.
Na minha opinião, a Língua Portuguesa foi o mais importante legado dos colonizadores. Invadiram nosso país - jamais concordei com o termo “descobrimento” - saquearam-nos tudo o quanto foi possível e por tanto tempo quanto conseguiram, porém, deixaram-nos como herança essa língua: rica, completa, melódica, misteriosa, complexa, totalmente imprevisível e, por isso mesmo, tão fascinante.
Se eu pudesse, lhe faria uma declaração de amor, porém, deixo isso a cargo de gênios como Clarice Lispector, Machado de Assis, Caetano Veloso, Cazuza, Renato Russo, e tantos outros poetas e mestres da literatura, que a souberam usar com tanta maestria.
Como não estou a altura dessas mentes brilhantes, tomo emprestadas suas declarações de amor pelo idioma. Como a de Pablo Neruda, que soube expressar de forma tão maravilhosa aquilo que eu, particularmente, sinto sobre o legado que nos foi deixado pelos conquistadores. Neruda se referia ao próprio idioma, no contexto da colonização da América Espanhola, porém, sua narrativa poderia perfeitamente descrever a nossa história e da chegada da Língua Portuguesa à nossa pátria.
A palavra
...Sim, senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as... Amo tanto as palavras... As inesperadas... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem... Vocábulos amados... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho... Persigo algumas palavras... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as... Deixo-as como estalactites em meu poema, como pedacinhos de pedra polida, como carvão, como restos de um naufrágio, presentes da onda... Tudo está na palavra... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu... Têm sombra, transparência, peso, pluma, pêlos, têm tudo o que se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes... São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos, frutos, com aquele apetite voraz que nunca mais se viu no mundo... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caiam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras, como pedrinhas, as palavras luminosas que permanecem aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo... e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.
Atualmente, percebe-se uma clara falta de preocupação generalizada em falar e escrever corretamente. Acho, também, que é uma solução muito simplista considerarmos isso um reflexo do fenômeno do “internetês”: essa aberração que reduziu o vocabulário, especialmente dos jovens, a um amontoado de erros de ortografia grotescos. Ah, façam-me o favor! O mesmo tempo que se leva para digitar “axo”, “bejo”, e outras pérolas do gênero, leva-se para digitar “acho”, “beijo”, e por aí vai...
Uma pequena vitória nesse campo: de tanto eu “pegar no pé” das minhas filhas por causa do internetês, a minha caçula, Vicky, voltou a escrever em português no MSN – agora, pelo menos, entendo o que ela está digitando! ;-)
E o famigerado “gerundismo” então? Porque falarmos “vamos estar passando a sua ligação para o setor tal” quando podemos simplesmente dizer: “um momento, passaremos a ligação”? É por isso que eu participo da comunidade “Vamos estar odiando o gerundismo”. Se eu pudesse, sozinha, erradicaria essa outra aberração da nossa língua... Mas, como isso é impossível, faço a minha parte, me abstendo completamente desse desvario gramatical! Ah! Recentemente, teve até um prefeito, não me recordo o município, que baixou um decreto proibindo o gerúndio. Coitado do gerúndio, ele lá tem culpa da má – aliás - péssima utilização que fazem dele? Aliás, como é que se pode proibir um tempo verbal? O Prefeito errou na mão, mas, se ele reformular esse Decreto e resolver acabar com o “gerundismo” na prefeitura, eu também apóio! (rs)
É exatamente por causa do desleixo com o nosso idioma que vemos os resultados sofríveis de alunos no ENEM, ENAD, e outras ferramentas utilizadas na avaliação dos conhecimentos dos alunos do ensino básico e superior. Alunos do 3º ano do Ensino Médio são incapazes de fazer uma redação com 10 linhas, por exemplo. Como é que um aluno chega a esse ponto como um analfabeto funcional? Por quantos professores esse alunou não passou, durante a sua vida escolar? Ninguém percebeu que ele não tinha condições de avançar até ali, ninguém identificou sua formação deficitária? Ou, simplesmente, é mais cômodo promover um aluno de uma série para a outra, sem que haja condições mínimas para tanto?
Isso só é engraçado quando o Jô lê as “pérolas do ENEM” no seu programa. A realidade é bem outra, é trágica: brasileiros que não falam português, que não sabem se expressar, que saem das escolas como entraram, ou seja, com pouco ou nenhum conhecimento.
Podem me chamar de chata, mas eu não abro mão de meus dicionários, meus manuais de redação, do corretor ortográfico que qualquer editor de texto possui, dos glossários e enciclopédias online. Tudo isso está disponível, basta procurar, basta ter interesse, pois, onde há vontade, há meios. Morro de medo de dar uma “gafe”, de “pagar o mico” escrevendo um absurdo, que outras pessoas – colegas, professores e, no caso do blog, outros internautas – lerão. E, vou mais adiante ainda: eu não poderia ter outra postura, já que me propus a fazer um curso de licenciatura.
Na minha opinião, a Língua Portuguesa foi o mais importante legado dos colonizadores. Invadiram nosso país - jamais concordei com o termo “descobrimento” - saquearam-nos tudo o quanto foi possível e por tanto tempo quanto conseguiram, porém, deixaram-nos como herança essa língua: rica, completa, melódica, misteriosa, complexa, totalmente imprevisível e, por isso mesmo, tão fascinante.
Se eu pudesse, lhe faria uma declaração de amor, porém, deixo isso a cargo de gênios como Clarice Lispector, Machado de Assis, Caetano Veloso, Cazuza, Renato Russo, e tantos outros poetas e mestres da literatura, que a souberam usar com tanta maestria.
Como não estou a altura dessas mentes brilhantes, tomo emprestadas suas declarações de amor pelo idioma. Como a de Pablo Neruda, que soube expressar de forma tão maravilhosa aquilo que eu, particularmente, sinto sobre o legado que nos foi deixado pelos conquistadores. Neruda se referia ao próprio idioma, no contexto da colonização da América Espanhola, porém, sua narrativa poderia perfeitamente descrever a nossa história e da chegada da Língua Portuguesa à nossa pátria.
A palavra
...Sim, senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as... Amo tanto as palavras... As inesperadas... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem... Vocábulos amados... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho... Persigo algumas palavras... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as... Deixo-as como estalactites em meu poema, como pedacinhos de pedra polida, como carvão, como restos de um naufrágio, presentes da onda... Tudo está na palavra... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu... Têm sombra, transparência, peso, pluma, pêlos, têm tudo o que se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes... São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos, frutos, com aquele apetite voraz que nunca mais se viu no mundo... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caiam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras, como pedrinhas, as palavras luminosas que permanecem aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo... e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.
Neruda falou e disse! ;-)
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