segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Mas, quem disse isso?

Durante o feriado da República, tive uma discussão muito bacana sobre Arte, com a minha filha mais velha, a Raphaela. Rapha é aluna do 2º ano do curso de Design da Faculdade SENAC-SP.
Ela é super talentosa e não é "papo de mãe", não... podem conferir: tem alguns de seus trabalhos num portfolio virutal, hospedado em www.flickr.com/photos/raphaelasimon. :-)
Nossos cursos têm várias similaridades, porém, o meu é mais generalista e o dela, mais especificamente voltado à área de design multimídia.

Pois bem, ela me contou que, durante uma aula, colocou sua posição pessoal sobre o que considera Arte, tomando como exemplo Embu das Artes, município próximo à São Paulo (Capital), famoso por seus antiquários e sua feira permanente (mas freqüentada principalmente aos domingos) que expõe e comercializa pinturas, esculturas, objetos, artesanato, etc.

Raphaela disse, à classe: “Gente, Embu é arte pura!” e, segundo suas próprias palavras, foi “zoada” pela classe inteira: “Ah, Rapha, pelo amor de Deus, desde quando aquilo é arte?”. Bom, então, eu faço minhas as palavras da minha filha: “E quem disse que não é?”

- Quem convenciona o que é arte e o que não é?
- E de que forma isso é feito?
- Quais são os critérios adotados?

Eu, por exemplo, questiono o status de arte dado a vários trabalhos com os quais já tive contato (real ou virtual). Vou usar uma referência recente para ilustrar isso: foi aberta uma exposição de trabalhos de Yoko Ono. A mostra ficará no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, até o dia 03 de fevereiro de 2008.

A exposição conta com uma célebre obra (da foto), denominada Ceiling painting (pintura no teto), que fez com que o Beatle John Lennon, de quem Yoko é viúva, se encantasse pela artista, em 1966. Trata-se de uma instalação que conta com uma escada e uma lupa. Para interagir com ela, o expectador sobe a escada, pega a lupa e lê, pintada no teto em letra minúscula, a palavra “yes” (sim).

Tudo bem... é uma forma de expressão. A instalação pode ser considerada como um veículo para a transmissão de uma mensagem otimista, etc e tal. Mas, é arte?

Ceiling painting – imagem disponível em: www.teiacultural.com.br/img/loop_capa/qui.jpg

Então, uma propaganda, um comercial de TV, também pode ser considerado uma obra de arte... ou não? Vejamos: é uma criação humana; depende de criatividade e técnica; utiliza vários suportes e linguagens (teatro, música, efeitos áudio-visuais); pretende passar uma mensagem que, muitas vezes, não está ligada explicitamente à venda de produtos – caso das propagandas institucionais; até aqui, temos várias similaridades com os trabalhos que são considerados como arte, portanto, o que difere - exceto alguns meios e suportes utilizados - a propaganda da pintura, por exemplo? Ou de uma instalação, como a Ceiling painting?

Por falar nisso, eu adorei a propaganda do Axe Click! É genial. Os atores dão um show de interpretação, conseguem passar a mensagem sem um único diálogo, só com expressões faciais e linguagem corporal, mas dão perfeitamente o seu recado. Para se chegar a um resultado final tão bom, a tecnicidade e a sensibilidade de muitas pessoas estiveram envolvidas, cada um com seu conhecimento, dons ou habilidades. Se eu fosse a autora da idéia que deu origem ao comercial, com certeza me sentiria como um pintor que termina uma tela, ou um escultor que contempla sua obra pronta. Eu contemplaria a minha obra como uma artista! ;-)


Campanha Axe - mídia impressa, imagem disponível em: www.adwebfreak.wordpress.com

Para apimentar um pouco mais a discussão: e o artesanato? O que difere uma obra de arte de uma peça artesanal? Eu, por exemplo, fico fascinada com a riqueza de detalhes da Cerâmica Marajoara (típica do Estado do Pará). São peças maravilhosas, que dependem de muita criatividade, senso estético e técnica para serem confeccionadas. Não passam uma mensagem, certo, mas têm qualidade estética. Vou ser bem sincera: entre visitar a exposição da Yoko e uma outra, de Cerâmica Marajoara, eu fico com a segunda, sem pestanejar! (rs).

Cerâmica marajoara – imagem disponível em: http://www.losartesanos.com/

Para terminar essa postagem, mais uma provocação: se a Yoko Ono não fosse a viúva de John Lennon, e uma personagem folclórica por ter sido apontada como um dos principais pivôs da separação da banda, ela teria tanta notoriedade? Acho que não, pois, segundo o próprio Lennon um dia afirmou: “Yoko Ono é a mais famosa artista desconhecida do mundo”. Será que, se não fosse por sua celebridade como personagem – e não como artista – Yoko também não estaria expondo seu trabalhando na feira de Embu?

Agenda:

Exposição “Yoko Ono - uma Retrospectiva” - Abertura: 10 de novembro, às 11h. Até 3 de fevereiro de 2008, de terça a domingo das 9h às 20h. Entrada gratuita. Programa Educativo. Agendamento prévio de segunda a sexta pelo tel.: (11) 3113.3649 (grátis). Centro Cultural Banco do Brasil. Rua Álvares Penteado, 112 - Centro - São Paulo. Informações: (11) 3113-3651 / 3113-3652. (Fonte: www.teiacultural.com.br).

Links:

Site da Prefeitura Municipal da Estância Turística de Embú das Artes : http://www.embu.sp.gov.br/








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