sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Minha visão sobre o Arte-Educador


Tenho 42 anos de idade e, exceto pelo ensino médio, cursei o ensino básico em escolas públicas. Embora o ensino público daquele tempo tivesse, notadamente, uma qualidade superior à de hoje, a então “Educação Artística” era considerada uma disciplina menor, ou seja, menos importante que Matemática ou Língua Portuguesa, por exemplo. Esse era o senso comum, tanto entre os alunos quanto entre os professores.

Analisando a questão, hoje, atribuo essa imagem pejorativa do ensino de Arte na escola como reflexo de uma formação deficitária dos próprios arte-educadores, que limitavam suas aulas a meras oficinas de artesanato (produtoras de “cartões comemorativos” e “corações de cartolina”) sem qualquer aprofundamento histórico sobre a Arte ou discussão crítica sobre as diversas linguagens artísticas. Dessa forma, o aluno não se sentia estimulado, instigado a explorar um universo tão fascinante, apesar de vivermos num país de produção artística riquíssima.

O educador deve encarar como um de seus maiores compromissos a elevação do padrão de ensino do país e, para tanto, não pode nivelá-lo por baixo, seja por preconceito: acreditar que o aluno não tem uma formação cultural que lhe possibilite plena compreensão e absorção de conteúdos mais complexos; ou por simples acomodação: acreditar que, por mais que o professor se esforce, não poderá mudar a postura de um aluno desinteressado, por isso, não vale a pena sequer tentar.

Para que professores e alunos “falem a mesma língua”, é necessário que o educador tenha uma grande dose de criatividade e busque maneiras eficientes e eficazes de atingir seu público, e isso só será possível se compreender a realidade de seus alunos. Interessar-se em entender as condições materiais, familiares, sócio-econômicas e culturais que eles vivenciam e buscar alternativas que possam superar as possíveis barreiras criadas por um ou mais desses aspectos. É preciso, também, desmitificar a Arte: trazê-la para o cotidiano do aluno, e buscá-la, também, na mesma fonte.

“Em termos culturais, as comunidades nada oferecem. Literatura, teatro, música e outras manifestações artísticas não fazem parte da vida dos alunos porque:

a) a população adulta precisa ocupar todo o seu tempo na busca de satisfação de suas necessidades básicas de alimentos e moradia;

b) não são estimulados nem pelas famílias nem pela escola e, muito menos, pelos poderes públicos”. (Nelson PILETTI, Psicologia Educacional, p. 307).

Exemplificando: um educador pode, pessoalmente, não se identificar com a cultura hip hop – não ouvir rap ou apreciar o grafite urbano - porém, não pode ignorar que se tratam de manifestações artísticas e culturais importantes, especialmente entre os jovens. Assim, por que não explorá-las, fazendo com que os alunos pesquisem a respeito de suas raízes e contribuições para a cultura no Brasil e no mundo? Isso não poderia lhes despertar o gosto pela pesquisa, pelo aprofundamento teórico e embasamento do conhecimento? E, a partir desse despertar, não seria mais fácil expandir esse conhecimento para outras áreas do saber que não fizessem exatamente parte de seu cotidiano, como, por exemplo, lançar o tema: a produção de grafite X escolas ou movimentos artísticos, demonstrando aos alunos que, da mesma maneira que existem diferentes estilos no grafitismo, o mesmo ocorre na pintura clássica, relacionando arte popular e arte erudita?

Dessa maneira, talvez as grandes obras de arte produzidas pelo homem não seriam vistas pelos jovens apenas como “velharias” de museu, totalmente desinteressantes e distantes de seu cotidiano.

Um comentário:

Professor disse...

Oi suzi, gostei do Diário/Blog. Convide seus colegas a visitá-lo. Lógico há muito a se discutir a respeito do entendimento entre Arte, Artesanato, Publicidade,...Muito coisa vai ser diferenciada por coisas como Espaço,Tempo,Contexto,Conceito...como estas palavras vão ser discriminadas em um determinado "fazer artistico" poderá determinar a "obra de arte" no seu sentido estrito ou "arte" no seu sentido lato...
É preciso compreender que não há juízo de valor nesse caso. Não se deve julgar que Obra de arte, Objeto artesanal ou "peça" publicitária seja "melhor" ou "mais valioso"...O Que existe é "campo" de pertencimento, delimitação de área de confluência e ferencial para estudos. A confusão no campo do conhecimento se dá como prática de banalização, menosprezo provocado pelo conflito de interesses. Assim, Arte enquanto área do conhecimento tem seu valor diminuído e consequentemente o profissional que com ela trabalhe, também. Então vamos ouvir eternamente o chavão: "para quê ensinar arte se arte é tudo?"