Como será que anda a qualidade da formação dos professores da rede pública? Infelizmente, muito ruim. Aqui em Itapê, que já foi muito conhecida como “a cidade dos professores”, por ter abrigado o 1º curso de Magistério do Estado de São Paulo, tenho vários amigos que lecionam na rede pública, tanto estadual quanto municipal. Vou falar a verdade: são todos muito queridos, porém, amigos ou não, analisando friamente, a maioria não está nem de longe preparada para dar aulas.
Eles não têm preparo e nem motivação para aprimorar seus conhecimentos. Uma achou que Jean Piaget fosse um escritor da literatura brasileira. Outro não sabia onde se localiza a Oceania. Pobres alunos... E o que dizer dos professores que não dominam a norma culta da língua? Deplorável, para dizer o mínimo! Ou, pior: que, além de falarem errado e de não serem, portanto, capazes de corrigir os alunos, ensinam absurdos porque não têm coragem de admitir que não sabem a resposta para certos questionamentos? Por favor! Ninguém, inclusive professores, tem a obrigação de saber tudo, dominar todos os detalhes de sua disciplina, mas, ao invés de admitirem essa deficiência e de, obviamente, se comprometerem a pesquisar o assunto em questão e voltar para o aluno com a resposta correta, inventam respostas absurdas!
Vou colocar aqui uma pérola de uma professora substituta, numa aula de matemática para a 6ª série do Fundamental (quem me contou foi uma amiga que trabalha na secretaria dessa escola pública estadual): a professora disse aos alunos que “13” é um número mágico, divisível por “2” e o resultado dessa divisão – pasmem – é um número exato!
Outra professora, da mesma escola, enviou à minha amiga um bilhetinho, solicitando da secretaria: “folhas de papel ao masso”. Pelo amor de Deus!!!!
Assim, como é que se pode esperar que os alunos (especialmente os da rede pública de ensino) tenham uma boa formação, se as pessoas que foram escolhidas para ensiná-los não sabem o básico do básico? E, se não tiverem uma boa formação, como se colocarão num mercado tão competitivo, como o mercado de trabalho contemporâneo?
Outro absurdo: professores substitutos, ou eventuais, não têm de ter formação específica na disciplina para ministrarem as aulas. Isso mesmo! Você é formado em Letras, mas, pode ser chamado – geralmente às pressas – para dar aula de química, física, geografia, ou seja, professor com ênfase em Bombril - mil e uma utilidades!
A justificativa é que os alunos não podem ficar sem a aula, por conta de uma falta ou problema do professor titular, mas, não aprender, ou pior, aprender “abobrinhas”, pode?
Ontem (20/11), assistindo ao noticiário local da TV Tem (transmissora da rede Globo da nossa região), soube que, a partir de agora – antes tarde do que nunca – será adotado o “estágio probatório” para professores da rede pública de ensino. Será um período de experiência de 3 anos. Caso o professor não atinja as metas pré-estabelecidas durante esse processo, será exonerado. Caso preencha, será efetivado e só então contará com a estabilidade garantida pelo serviço público. Como dizem as minhas filhas: “DEMOROU”!
Sob o meu ponto de vista, muito do processo de educação depende do interesse do próprio aluno: de sua disposição de fugir do senso comum - desenvolvendo uma visão crítica - e de não se confinar a uma postura passiva de mero “receptáculo” do saber; porém, grande parte desse desenvolvimento depende essencialmente do professor, da qualidade de sua formação e de uma postura ética com relação ao seu papel na sociedade. Nem 15% das escolas estaduais possuem uma biblioteca... acesso à Internet, então, é coisa rara; então, a quem os alunos recorrerão para enriquecer seu aprendizado? Ao professor, evidentemente, pois, dentro da sala de aula, ele é uma referência para o aluno.
O Brasil não pode continuar a ser um “gigante deitado eternamente em berço esplêndido”: é um país de dimensões continentais, que conta com muitos recursos e enorme potencial, mas que não cresce e não se desenvolve na mesma velocidade que outros países pobres (ou em desenvolvimento, como preferem os politicamente corretos), principalmente porque os brasileiros não têm instrução. Sem educação, seremos sempre um povo facilmente manobrado, ludibriado, refém de elites e governantes corruptos. Sem educação não existe cidadania, não existe possibilidade de diminuição dos abismos sociais que separam os mais ricos dos mais pobres, que formam a maioria esmagadora da nossa população.
Porém, para não dizer que eu só falo mal, faço aqui uma homenagem e tiro o meu chapéu para professores que, a despeito das condições precárias da maioria das escolas, não desistem e fazem a diferença para os seus alunos. Andam quilômetros, navegam em barcas e pequenos botes, vão em cima de lombo de jegue, mas não abandonam seus alunos e mostram que têm uma vocação inequívoca para serem educadores. Não há verbas, não existem materiais didáticos ou de apoio, às vezes, sequer carteiras e quadro negro nas salas, mas eles estão lá, faça sol ou chuva, à espera das crianças que, sem o altruísmo desses educadores, estariam fadadas à condição de parias da sociedade, pois o analfabetismo subjuga e aliena as pessoas, tornando-as reféns da miséria.
Se uma pequena parcela dos recursos que são tão acintosamente desviados por políticos corruptos fosse destinada à educação, principalmente fora dos grandes centros, nosso IDH seria infinitamente melhor. Não tem fórmula mágica: povo desenvolvido é povo esclarecido.
Como já diz o velho ditado “se quiser algo bem-feito, faça você mesmo”, por isso, brasileiros, se nós não acordarmos, e não pusermos a “mão na massa” para mudar a realidade desse país, não será nenhum FMI ou ONU que o fará por nós!
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Um comentário:
O problema é contar apenas com o altruísmo, pois são os professores altruístas os que têm feito alguma diferença. Será que essa é uma característica necessária e fundamental para o bom professor??
Fico a me perguntar...
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