sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Carta de Navegação: meus mares na Net



ENTREVISTA COM ROSA IAVELBERG


Já falei aqui sobre o site Aguarrás. Sempre que posso, dou uma navegada nele, pois algumas matérias são muito interessantes. Além do mais, navegar é preciso!

A seguir, transcrevo na íntegra uma entrevista feita pelo site com a Profª. Drª. Rosa Iavelberg, uma das autoras dos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) na área de Artes e diretora do Centro Universitário Mariantônia, da USP (Universidade de São Paulo).
A Profª Rosa é também coordenadora do Curso de Especialização em Linguagens das Artes, na mesma instituição. Concedeu esta entrevista por ocasião do lançamento de seu livro mais recente, “O desenho cultivado na Infância” (Zouk Editora). É, ainda, autora de mais dois livros, bibliografias de referência na área de Arte-Educação:

- “Ensino de Arte” (Thomson Pioneira, 2006), escrito em parceria com a Profª. Luciana Mourão Arslan.

- “Para gostar de aprender arte” (Artmed, 2003).
A entrevista é longa, mas vale a pena lê-la, especialmente para os futuros licenciados em Artes.
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1. Profª. Rosa, como você avalia a atual situação do ensino de arte nas escolas brasileiras?
O quadro é diversificado. Temos projetos com qualidade, mas um número expressivo de escolas da rede pública e privada não desenvolve trabalhos adequados à aprendizagem em arte e não promove a formação cultural.

2. Qual seria, na sua visão, o ideal do ensino de arte nas escolas?
Creio que as equipes de professores e profissionais das escolas e secretarias deveriam ter autonomia para concretizar, em paradigmas contemporâneos, o desenho curricular e a orientação dos professores, com abertura a avaliadores internos e externos para acompanhar as práticas em seus resultados de aprendizagem.
Os aspectos importantes são: a formação dos professores para ensinar arte, programas de acessibilidade aos bens artísticos e culturais, com provisão de meios para acessá-los e, principalmente, a inclusão de arte como área de conhecimento na escola, como forma imprescindível à educação das crianças e jovens.
Além disto, toda ação educativa precisa ser concebida em redes institucionais envolvendo escolas, secretarias de educação e cultura, organizações não-governamentais, universidades, instituições culturais, bibliotecas, associações representativas dos profissionais da arte e da educação. Um sonho assim vale a pena e certamente nos ensinará sobre a diversidade nos espaços escolares.

3. Levando-se em consideração sua visão sobre a importância da arte da vida das pessoas, qual o prejuízo em um ensino de arte feito por pessoas consideradas não capacitadas adequadamente para isso?
O tempo didático costuma ser curto nas escolas brasileiras, se neste tempo não se oferece oportunidade de aprendizagem aos alunos, por falta de profissionais preparados, priva-se o aluno de participação sócio-cultural informada e de ações criativas, nas quais, sua subjetividade dialoga com as produções de pares e artistas em diferentes linguagens artísticas. Além disto, a precariedade das escolhas teóricas nas escolas e as orientações didáticas equivocadas podem imprimir uma visão deformada de arte, afeita a práticas sociais sem qualidade artística e estética.

4. O que deve ser entendido como “arte” na expressão “arte-educação” e por que há uma crítica negativa, dos profissionais da área, em relação à denominação “Educação Artística” para o ensino de arte nas escolas?
A terminologia arte-educação refletiu um avanço conceitual na área de Arte porque incluiu as culturas como conteúdo das aulas e a produção artística como forma contextualizada, deste modo abriu-se espaço para que a diversidade da produção artística de qualidade pudesse ser aprendida nas escolas, aproximando o que se aprende do trabalho dos artistas, críticos, historiadores de arte, agentes culturais.
Na seqüência passou-se a usar Ensino da Arte, sem medo de caracterizar ensino nos moldes da escola tradicional, mas compreendendo a necessidade de um ensino regulado pela aprendizagem, por outras palavras, pelo diálogo entre ensino e aprendizagem, porque na didática contemporânea, com foco na aprendizagem, observam-se as transformações dos níveis de saber e dos modos de aprender de sujeitos singulares (subjetividades diferenciadas), além de reconhecer as mudanças estruturais dos níveis de conhecimento em cada área de conhecimento ou linguagem específica em sua gênese.

5. Qual a importância da arte para a formação das pessoas?
Arte humaniza a formação porque garante às pessoas espaço para interações cuja principal finalidade é o valor simbólico da interlocução intersubjetiva. É possível, por intermédio da arte, colocar-se no mundo de modo autoral, não submisso, percorrendo tempos e espaços variados, gerando modos de conhecer e compreender a vida e a criação, articulando cognição, valores, ação criativa com construção de significados e ainda, percepção e atribuição de qualidades com sensibilidade.

6. Quem pode ser considerado um arte-educador?
Compreendo o arte–educador como um profissional que tem como finalidade ensinar arte com diversos objetivos. Se atua em educação escolar seus objetivos serão diferentes dos arte-educadores que trabalham em projetos sociais, instituições de saúde, presídios, centros de reabilitação. Todos educam e promovem aprendizagens, mas os propósitos sociais e educacionais se diferenciam em cada caso gerando organizações didáticas distintas.

7. Qual a formação que um arte-educador deve ter?
A formação deve perpassar no mínimo: saber sobre arte e saber sobre aprendizagem em arte. Se os modos de aprendizagem implicam em desenvolvimento de percurso de criação em arte do aluno, é necessário que o educador tenha experiência em processo de criação pessoal. Aprender para saber dar aula é um conteúdo procedimental pouco considerado na formação inicial. Responder sobre formação em algumas linhas é impossível. Mas sem dúvida os âmbitos cultural, educacional e gerencial previstos por Antonio Nóvoa tem encaixe perfeito na formação do arte-educador.

8. Como se dá esta formação?
Não se tem uma unidade nas propostas formativas. Somente uma análise de currículos e programas dos centros formativos do país, atualizada e não tendenciosa, poderia elucidar esta pergunta.

9. A LDB (Lei de Diretrizes e Bases) proíbe o ensino de arte nas escolas por pessoas que não tenham formação específica nesta área?
A LDB prevê que o ensino da arte seja ministrado por profissionais com formação específica, entretanto, na prática ainda não se tem número suficiente de professores com habilitação. Existe abertura na resolução de atribuição de aulas para preencher as vagas com professores de outras áreas para que o aluno não fique sem aulas de arte. Tal fato não colabora para o ensino da arte.
10. Como avalia a formação dos arte-educadores no Brasil? Considera que, na maioria, estejam bem preparados para lecionar arte?
Creio que falta aperfeiçoamento da formação inicial e continuada, apesar de muitos esforços já realizados, a maioria dos profissionais que atuam nas escolas requer mais preparo e atualização nos conteúdos ligados à própria arte, na concepção de currículo e nas modalidades da didática contemporânea com foco na aprendizagem.

11. Em que aspectos seu livro “Ensino de Arte” (THOMSON PIONEIRA) contribui para a formação do arte-educador?
Trata-se de um livro que compõe a Coleção Idéias em Ação projetada pela professora Anna Maria Pessoa de Carvalho da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, voltada para as diversas áreas de conhecimento. A coleção é orientada principalmente para o Ensino Fundamental, no livro parte-se dos fundamentos e ações desenvolvidas na formação continuada realizada pelos professores da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, por intermédio de sua Fundação de Apoio, junto a secretarias estaduais e municipais de educação. A socialização desta experiência visou trazer para professores que atuam em sala de aula e professores em formação bases teóricas, propostas práticas e indicações de fontes de informação.
Neste livro, que escrevi com Luciana Mourão Arslan, orientado às artes visuais, o arte-educador poderá refletir sobre o ensino de arte na contemporaneidade, percorrendo aspectos como a leitura de imagens, as visitas a instituições de arte, orientações para o fazer artístico e subsídios para avaliar em arte, tarefa complexa que requer conhecimento e sensibilidade. Por fim, o livro reúne relatos de práticas seguidos de reflexão que almejam colaborar na formação do professor.
Entrevista concedida em 4/5/2007, disponível na editoria de arte-educação do site Aguarrás (http://www.aguarras.com.br/)
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Agenda:

O Centro Universitário Mariantônia fica na Rua Maria Antonia, 294 – Vila Buarque. São Paulo/SP. Tel.: (11) 3237-1815 / www.usp.br/mariantonia



Um comentário:

Unknown disse...

Olá!

Obrigada pelos gentis comentários sobre o Aguarrás.

Te escrevo aqui no comentário para pedir, se possível, que vc conserte o link para o Aguarrás (com s, e não com z): http://www.aguarras.com.br/

Os links na internet que apontam pra gente são muito importantes e talvez a forma mais direta de percebermos o alcance do veículo.

Aproveito para lembrar que uma ou outra reprodução não tem problema algum mas uma parte da matéria e o link para a íntegra nos ajuda mais.

Desde já te agradeço a atenção,
Carolina.